No dia da tomada de posse do 44º Presidente dos EUA, não resisti a deixar um texto que me enviaram...O texto é grande mas merece a pena perder-mos algum do nosso precioso tempo a ler...
O despontar de uma nova era, conforme apontam muitos.
A respeito de Barack Obama tem-se escrito muitas coisas, relativas à sua raça, à sua geração.
Mas não se mencionou o mais significativo da sua inspiração íntima:
A jovem mãe.Diante do oceano de possibilidades da vida, cabe aos pais conduzir os passos dos filhos pelo melhor caminho.
Obama teve em sua mãe um vivo exemplo de generosidade e de serviço ao próximo.
Dela Obama herdou um certo modo de olhar.
”Tenha coragem de ir correr o mundo, e de buscar a vida...”
Ann Dunham nasceu no estado de Kansas, em novembro de 1942.
A herança mais preciosa que legou a Obama foi, certamente, o seu modo peculiar de se relacionar com as pessoas e com o mundo à sua volta.O seu olhar solidário, o seu olhar compassivo.
Filha única do casal Dunham, Ann cresceu numa família de classe média norte-americana, no estado do Hawaii.
Seu pai, Stanley, trabalha numa firma de móveis, e sua mãe, Madelyn, é dona-de-casa.
Desde cedo, Ann destaca-se nos estudos, e ainda adolescente, antes de concluir o ensino médio, ganha uma bolsa de estudo para a Universidade de Chicago.
Mas o seu pai pede-lhe que recuse o convite e permaneça junto à família.
“Pássaro novo tem que voar perto do ninho”, pensa o seu pai, sem poder imaginar as consequências que tal decisão acarretará...
Existem lares, e existem famílias...
E Ann, filha obediente que é, permanece ao lado dos seus pais e, após concluir o ensino médio, ingressa na Universidade do Hawaii.
Cursa Antropologia, e demonstra um interesse especial pelos emergentes movimentos de direitos civis.
O que o futuro lhe reserva? O futuro, o destino, o acaso, o inevitável são diferentes maneiras de se dizer a mesma coisa...
A grande verdade é que a vida é feita de escolhas. As escolhas da mente, e as escolhas do coração...
E ainda no início do curso, Ann apaixona-se por um estudante africano que veio fazer intercâmbio nos Estados Unidos.
Ela, uma jovem de dezenove anos, inteligente, recatada e tímida.
Ele, um jovem inteligente e carismático, constante centro das atenções, com mil histórias para contar da sua terra natal, o longínqua Quénia.
Quem algum dia irá desvendar os segredos do coração, resolvem casar.
Ainda a barriga não cresceu e já os filhos brilham nos olhos das mães, escreveu certa vez um poeta.
Em 04 de agosto de 1961, a maternidade sorri para Anne, presenteia com o pequeno Barack Obama.
A irradiante felicidade de uma jovem mãe que leva ao colo seu primogênito.
Em verdade, há horas felizes...Que destino os aguardará? Destino, futuro, acaso, inevitável, diferentes maneiras de se dizer a mesma coisa...
Uma típica família, no início.
Mas um belo dia,o Sr. Obama anuncia que vai transferir o seu curso para a Universidade de Harvard.
Ann estranha a decisão, pois tal transferência implica o corte da bolsa de estudos. Como irá ele sustentar a família?
Mas Sr. Obama mostra-se resoluto na sua decisão, alega a superioridade do nível de ensino.
O pequeno Barack Obama ainda não completou dois anos quando seu pai deixa a família e se muda do Hawaii.
Pouco tempo depois chega a notícia de que ele, após a conclusão do curso, resolveu regressar à África.
Sr. Obama retorna à sua terra natal, abandonando esposa e filho.
Barack Obama passa a sua primeira infância, então, sem nenhuma lembrança da presença do seu pai.
Tem mais presença em mim o quev me falta, escreveu certa vez um poeta.
O que podem a mãe e os avós de Barry (carinhoso apelido utilizado pela família) fazer, senão amá-lo de modo redobrado?...
À medida que vai crescendo, surgem as inevitáveis perguntas:
“Onde está meu pai? Por que foi embora? Quando voltará?”
E a sua família, é composta agora pela sua mãe e pelos seus avós,sem ter as respostas, procura suprir, na medida do possível, a ausência com amor e carinho.
Avô e neto.Praias do Hawaii.O amor sincero que faz aflorar sorrisos nos rostos.
Em verdade,há momentos felizes. Uma infância amorosa e ordenada é o chão pelo qual caminharemos até a velhice...
...e a nossa aventura existencial terá mais ou menos chances à medida que esse chão for confiável,escreveu certa vez uma poetisa.
Ann está com seus vinte e poucos anos,e mantém o frescor do entusiasmo que a faz ver a vida como um oceano de possibilidades positivas.
Sabe que o fracasso de um amor não é o fracasso do Amor, e nem o fracasso de um casamento, o fracasso do Matrimônio.
E ela apaixona-se novamente.Todos os dias têm a sua história.
Quando um novo amor floresce, o sol aparece mais belo no céu, e as cores do dia nascem com um brilho diferente.
E em 1967, no verdor dos seus vinte e cinco anos de idade, Ann decide casar-se novamente.
Dentro em breve, o destino lhe sorrirá novamente.E a maternidade passará suavemente as mãos por sobre a sua cabeça pela segunda vez...
Em 15 de agosto de 1970 nasce, a sua filha, que recebe o nome de Maya.
Escreveu certa vez um poeta que os olhos das mães continuam a brilhar na penumbra da noite mesmo depois de todas as luzes se apaguem.
Sucede a todas as mães, conforme ele nos recorda, desde o princípio do mundo...E os olhos de Ann passam a brilhar com um brilho redobrado, agora pelo nascimento de sua pequena filha.
Na sua nova família, além da irmã,Obama ganha um padrasto, Lolo Soetoro, de nacionalidade indonésia.
Nos primeiros anos, a família mora no Hawaii, onde Lolo Soetoro completa seus estudos em Geologia.
Barack Obama está com seis anos de idade, quando a família resolve se mudar para Jacarta, capital da Indonésia.
Passam a residir num bairro humilde na periferia da cidade. São os primeiros estrangeiros a morar na vizinhança.
No início, Obama é alvo de chacota, não apenas por causa da sua cor, mas também por ser mais “gordinho” do que as crianças locais.
Desde cedo se vê diante da tarefa de construir pontes, e em pouco tempo faz amizades na vizinhança, passando as tardes brincando nas ruas ou subindo nas árvores atrás de goiaba.
Pela primeira vez Ann tem contato com a dura realidade das famílias que vivem à margem da sociedade, e a miséria deixa de ser para ela uma vaga abstração para se tornar algo palpável.
Inicialmente, Ann fornece ajuda a todo pedinte que bate à sua porta,
e não tarda para que uma “caravana de miséria” se forme em frente à sua casa, obrigando-a a se tornar mais seletiva na sua caridade.
Ela passa a dividir seu tempo entre as aulas de inglês que ministra na Embaixada dos EUA e o apoio a projectos sociais e acções comunitárias que visam à melhoria das condições sócio-econômicas das famílias esquecidas pelo destino.
Lolo Soetoro consegue emprego na filial de uma empresa petroquímica norte-americana e logo é promovido a um posto de chefia.
A família muda-se para um bairro melhor. Passam a freqüentar o círculo da alta-sociedade. Enquanto Ann se integra à realidade do país, intrigada pela miséria, o seu marido torna-se cada vez mais ocidentalizado, freqüenta campos de golfe e sonha com mansões, e o consumismo o seduz.
Embora o casal raramente discuta, a cada momento tem menos assuntos em comum. O silêncio começa a vigorar. Num relacionamento há dois tipos de silêncio:
O primeiro é o silêncio da comunhão, que representa o encontro do essencial, onde o dois se torna um.
Um silêncio que dispensa e transcende as palavras.
E existe um segundo silêncio, que é o silêncio das palavras não-ditas. O silêncio onde cada parte habita uma ilha própria, isolada. Um silêncio onde nem as aspirações íntimas, nem os suaves movimentos da alma são compartilhados.
Obama relataria anos mais tarde que sua mãe não estava preparada para a solidão, e que a solidão constante para ela era como falta de ar.
Mal vai o amor, se não diz tudo. E após seis anos de casamento, Ann decide se separar.
Conforme Maya anos mais tarde recordaria sua mãe, apesar dos dois casamentos desfeitos, em nenhum momento queixava-se da trajetória da sua vida ela sempre procurou poupar os filhos das suas desilusões amorosas ou possíveis ressentimentos afectivos.
Sabia que o Amor é maior do que dois amores fracassados...???
Nunca na frente dos filhos se queixou do amor ou do casamento longe de lamentar os relacionamentos desfeitos, agradecia constantemente pelos belos filhos que a Vida lhe concedera.
Pequenos detalhes que muitas vezes passam despercebidos, mas que fazem tamanha diferença...O nosso mal é julgarmos que só as grandes coisas são importantes,
quando é nos detalhes subtis da existência que o verdadeiro caráter se manifesta.
Há quem diga que viver é dançar na corda oscilante do inesperado.
E o que hão de fazer uma jovem mãe e seus dois pequenos rebentos numa terra estrangeira?
Talvez o melhor a fazer seja retornar ao primeiro ninho. E Ann compra três passagens de regresso aos Estados Unidos. O casal Dunham recebe de volta a filha e os dois netos de braços abertos.
Pais amorosos são e sempre serão o porto mais seguro.
Sr. Stanley Dunham, Ann, Maya e o jovem Obama
Mãos que se tocam, o sorriso fácil e acolhedor, próprio daqueles que sabem valorizar da vida o essencial...
Há momentos de felicidade profunda, sem motivo, apenas pela gratidão de respirar. A pureza das crianças pequenas, aqueles que amamos, o sol, a grama, a brisa, o mar...Pai e filha, Mãe e filhos,
Avó e netos, Irmãos...Todas as famílias são iguais, o que muda são as histórias...
Certa vez, escreveu alguém que a verdadeira felicidade reside no seio da família...quando há afinidade de sensibilidade e espírito.
Em verdade, há momentos felizes. E a vida continua.
Barack Obama, agora com dez anos de idade, é matriculado numa escola do Hawaii. Ainda tão novo em idade, e tantas mudanças, tantas andanças...É o único estudante negro na turma de trinta alunos
Enquanto sua mãe, com Maya ao colo, continua empenhada em projectos sociais pelo mundo, o pequeno Obama passa a morar com os avós e estudar nos EUA.
Pelo menos duas vezes por ano, nas férias de verão e nas festividades de fim-de-ano, a família toda reúne-se.
O tempo passa e transforma as crianças em adolescentes e jovens adultos. Uma família multirracial, multiétnica, multinacional.
Obama, sendo nove anos mais velho, procura auxiliar na educação de sua irmã. Chama sua atenção, toda vez que ela passa tempo demais na frente da televisão. Indica bons livros, discos, filmes, como todo bom irmão costuma fazer.
Ann, embora passe boa parte do tempo envolvida em projectos sociais,faz questão de acompanhar de perto a rotina dos filhos, e cobri-los com todo o seu amor e carinho.
Num mundo onde o diferente é olhado com frieza e desconfiança, ela procura dotar os filhos de um olhar que acolhe e que é capaz de ver a beleza da variedade.
“Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita ficavam lado a lado na prateleira...” Diz…Barack Obama
“Todas as religiões foram verdadeiras, para o seu tempo. Quem for capaz de reconhecer o aspecto não perecível da sua verdade e separá-lo do que é circunstancial, terá apreendido isso.”
Joseph Campbell
(um dos escritores favoritos de Ann)
Com sua mãe e irmã constantemente viajando, o porto seguro de Obama são os avós, Sr. Stanley e Sra. Madelyn.
Para se entender um pouco do espírito do casal Dunham, é preciso recordar a serenidade com que receberam o fato de que sua única filha, Ann, resolvera se casar com um estudante africano, e mesmo nos demais estados, onde era tolerado em lei, como no estado do Hawaii,
o casamento entre pessoas brancas e negras não era visto com bons olhos pela sociedade vigente.
No entanto, eles, confiantes na educação que haviam transmitido, apoiavam sua filha nas suas escolhas pelos caminhos da vida.
E com pleno amor criaram e acolheram o seu amado neto no modesto apartamento de dois quartos onde moravam.
É nos detalhes subtis da existência que o verdadeiro carácter se manifesta. O tempo passa, e todos um dia haveremos de partir...
Em fevereiro de 1992, Sr. Stanley Dunham morre aos 74 anos de idade.
Um pai e um esposo amoroso. Um avô e “pai” que amou na sua plena capacidade os seus amados netos.
A vida não se mede pela quantidade de anos que se vive...A vida mede-se pela quantidade de alegria que se distribui, escreveu certa vez um poeta.
E a vida continua, por entre a tristeza das partidas e a alegria das chegadas. Pessoas amadas que partem, Pessoas amadas que chegam
É na firma de advocacia em Chicago onde trabalha que Barack Obama conhece a jovem advogada Michelle Robinson e não tardará muito para que eles decidam se casar.
O casamento é uma ponte que conduz ao céu, afirmou certa vez um antigo sábio.
Duas famílias que se unem, Histórias, memórias, sonhos, lembranças que se entrelaçam...Em verdade, há momentos felizes.
Porém, a vida é uma dança na corda oscilante do inesperado.
Pessoas amadas que chegam, pessoas amadas que partem.
Em 1995, Ann interrompe suas actividades em projectos sócio-econômicos na Ásia para cuidar da saúde nos Estados Unidos.
Há cerca de um ano ela começou a sentir dores no estômago, cuja causa os médicos locais não conseguem descobrir.Os novos exames diagnosticam câncer.
E ela começa o penoso tratamento no Hawaii. No entanto, o diagnóstico tardio reduz as chances de vencer a enfermidade, e ela perde a luta contra o câncer, aos 52 anos de idade.
A sua prematura partida deixa atônita a família, tendo em vista o amor e a paixão que ela manifestava pela vida.
Compartilhava que queria adoptar uma criança refugiada, sonho este que não teve tempo de realizar.
Barack Obama afirma que seu maior erro na vida foi não ter estado presente ao lado de sua mãe na sua hora derradeira. Tanto a família quanto os médicos nutriam enormes esperanças de que ela conseguisse vencer a batalha.
Sua filha recorda que ela tinha um coração muito delicado e que chorava com facilidade, bastava ver algum animal ser maltratado, ou alguma criança vítima de injustiça ou crueldade, uma notícia ou um filme triste. Por outro lado, era destemida e determinada nas suas acções.
Morou em mais de treze países, e em todos eles se sentia em casa.
Considerava-se uma cidadã do mundo. Durante toda a sua vida acordou muito antes do nascer do dia e se dedicou incansavelmente às acções sociais, em especial àquelas que beneficiassem os excluídos e marginalizados da sociedade.
Atendendo ao seu pedido, a família e alguns poucos amigos íntimos lançam as suas cinzas nas costas do Oceano Pacífico, numa das praias do Hawaii
Viveu o suficiente para ver o casamento do seu filho. Mas quis o destino levá-la antes que sua filha se casasse
ou que nascessem os seus netos; ela que tanto amava as crianças...
Em sua breve vida terrena abraçou o papel de mãe, da grande mãe.
Aquela que abriga e protege os filhos não apenas os gerados no seu ventre, mas os filhos do mundo, em especial, os carentes, esquecidos, excluídos, necessitados.
E foi esta inspiração íntima, certamente, a herança mais nobre que deixou aos filhos.Que o olhar compassivo da mãe possa continuar a brilhar nos olhos do filho, durante os importantes desafios que ombreará nos próximos anos...
As responsabilidades e as expectativas que Barack Obama ombreia não encontram paralelo na história recente.
Certamente o acompanharão nesta missão que lhe foi destinada as orações e os pensamentos de todos aqueles que sonham com um mundo melhor.
E certamente o acompanhará também a eterna presença de sua amada mãe, a fonte mais significativa de sua inspiração íntima.
E o coração da jovem mãe por certo se alegra com as flores e os frutos de amor que os seus dedicados esforços têm produzido...
Os amigos e familiares próximos recordam a afinidade que unia mãe e filho, relatando que eram muito próximos, “extraordinariamente próximos”.
Para compartilhar aquilo que sentiam pareciam em muitas ocasiões dispensar o uso das palavras.
Há sentimentos que transcendem este limitado recurso que utilizamos,
- as palavras...Os sonhos da mãe, e os sonhos do filho.
O sonho de um mundo melhor, mais justo, fraterno, solidário. São os sonhos que seguram o mundo em sua órbita.
Que seria de nós se não sonhássemos?...
Mas não se mencionou o mais significativo da sua inspiração íntima:
A jovem mãe.Diante do oceano de possibilidades da vida, cabe aos pais conduzir os passos dos filhos pelo melhor caminho.
Obama teve em sua mãe um vivo exemplo de generosidade e de serviço ao próximo.
Dela Obama herdou um certo modo de olhar.
”Tenha coragem de ir correr o mundo, e de buscar a vida...”
Ann Dunham nasceu no estado de Kansas, em novembro de 1942.
A herança mais preciosa que legou a Obama foi, certamente, o seu modo peculiar de se relacionar com as pessoas e com o mundo à sua volta.O seu olhar solidário, o seu olhar compassivo.
Filha única do casal Dunham, Ann cresceu numa família de classe média norte-americana, no estado do Hawaii.
Seu pai, Stanley, trabalha numa firma de móveis, e sua mãe, Madelyn, é dona-de-casa.
Desde cedo, Ann destaca-se nos estudos, e ainda adolescente, antes de concluir o ensino médio, ganha uma bolsa de estudo para a Universidade de Chicago.
Mas o seu pai pede-lhe que recuse o convite e permaneça junto à família.
“Pássaro novo tem que voar perto do ninho”, pensa o seu pai, sem poder imaginar as consequências que tal decisão acarretará...
Existem lares, e existem famílias...
E Ann, filha obediente que é, permanece ao lado dos seus pais e, após concluir o ensino médio, ingressa na Universidade do Hawaii.
Cursa Antropologia, e demonstra um interesse especial pelos emergentes movimentos de direitos civis.
O que o futuro lhe reserva? O futuro, o destino, o acaso, o inevitável são diferentes maneiras de se dizer a mesma coisa...
A grande verdade é que a vida é feita de escolhas. As escolhas da mente, e as escolhas do coração...
E ainda no início do curso, Ann apaixona-se por um estudante africano que veio fazer intercâmbio nos Estados Unidos.
Ela, uma jovem de dezenove anos, inteligente, recatada e tímida.
Ele, um jovem inteligente e carismático, constante centro das atenções, com mil histórias para contar da sua terra natal, o longínqua Quénia.
Quem algum dia irá desvendar os segredos do coração, resolvem casar.
Ainda a barriga não cresceu e já os filhos brilham nos olhos das mães, escreveu certa vez um poeta.
Em 04 de agosto de 1961, a maternidade sorri para Anne, presenteia com o pequeno Barack Obama.
A irradiante felicidade de uma jovem mãe que leva ao colo seu primogênito.
Em verdade, há horas felizes...Que destino os aguardará? Destino, futuro, acaso, inevitável, diferentes maneiras de se dizer a mesma coisa...
Uma típica família, no início.
Mas um belo dia,o Sr. Obama anuncia que vai transferir o seu curso para a Universidade de Harvard.
Ann estranha a decisão, pois tal transferência implica o corte da bolsa de estudos. Como irá ele sustentar a família?
Mas Sr. Obama mostra-se resoluto na sua decisão, alega a superioridade do nível de ensino.
O pequeno Barack Obama ainda não completou dois anos quando seu pai deixa a família e se muda do Hawaii.
Pouco tempo depois chega a notícia de que ele, após a conclusão do curso, resolveu regressar à África.
Sr. Obama retorna à sua terra natal, abandonando esposa e filho.
Barack Obama passa a sua primeira infância, então, sem nenhuma lembrança da presença do seu pai.
Tem mais presença em mim o quev me falta, escreveu certa vez um poeta.
O que podem a mãe e os avós de Barry (carinhoso apelido utilizado pela família) fazer, senão amá-lo de modo redobrado?...
À medida que vai crescendo, surgem as inevitáveis perguntas:
“Onde está meu pai? Por que foi embora? Quando voltará?”
E a sua família, é composta agora pela sua mãe e pelos seus avós,sem ter as respostas, procura suprir, na medida do possível, a ausência com amor e carinho.
Avô e neto.Praias do Hawaii.O amor sincero que faz aflorar sorrisos nos rostos.
Em verdade,há momentos felizes. Uma infância amorosa e ordenada é o chão pelo qual caminharemos até a velhice...
...e a nossa aventura existencial terá mais ou menos chances à medida que esse chão for confiável,escreveu certa vez uma poetisa.
Ann está com seus vinte e poucos anos,e mantém o frescor do entusiasmo que a faz ver a vida como um oceano de possibilidades positivas.
Sabe que o fracasso de um amor não é o fracasso do Amor, e nem o fracasso de um casamento, o fracasso do Matrimônio.
E ela apaixona-se novamente.Todos os dias têm a sua história.
Quando um novo amor floresce, o sol aparece mais belo no céu, e as cores do dia nascem com um brilho diferente.
E em 1967, no verdor dos seus vinte e cinco anos de idade, Ann decide casar-se novamente.
Dentro em breve, o destino lhe sorrirá novamente.E a maternidade passará suavemente as mãos por sobre a sua cabeça pela segunda vez...
Em 15 de agosto de 1970 nasce, a sua filha, que recebe o nome de Maya.
Escreveu certa vez um poeta que os olhos das mães continuam a brilhar na penumbra da noite mesmo depois de todas as luzes se apaguem.
Sucede a todas as mães, conforme ele nos recorda, desde o princípio do mundo...E os olhos de Ann passam a brilhar com um brilho redobrado, agora pelo nascimento de sua pequena filha.
Na sua nova família, além da irmã,Obama ganha um padrasto, Lolo Soetoro, de nacionalidade indonésia.
Nos primeiros anos, a família mora no Hawaii, onde Lolo Soetoro completa seus estudos em Geologia.
Barack Obama está com seis anos de idade, quando a família resolve se mudar para Jacarta, capital da Indonésia.
Passam a residir num bairro humilde na periferia da cidade. São os primeiros estrangeiros a morar na vizinhança.
No início, Obama é alvo de chacota, não apenas por causa da sua cor, mas também por ser mais “gordinho” do que as crianças locais.
Desde cedo se vê diante da tarefa de construir pontes, e em pouco tempo faz amizades na vizinhança, passando as tardes brincando nas ruas ou subindo nas árvores atrás de goiaba.
Pela primeira vez Ann tem contato com a dura realidade das famílias que vivem à margem da sociedade, e a miséria deixa de ser para ela uma vaga abstração para se tornar algo palpável.
Inicialmente, Ann fornece ajuda a todo pedinte que bate à sua porta,
e não tarda para que uma “caravana de miséria” se forme em frente à sua casa, obrigando-a a se tornar mais seletiva na sua caridade.
Ela passa a dividir seu tempo entre as aulas de inglês que ministra na Embaixada dos EUA e o apoio a projectos sociais e acções comunitárias que visam à melhoria das condições sócio-econômicas das famílias esquecidas pelo destino.
Lolo Soetoro consegue emprego na filial de uma empresa petroquímica norte-americana e logo é promovido a um posto de chefia.
A família muda-se para um bairro melhor. Passam a freqüentar o círculo da alta-sociedade. Enquanto Ann se integra à realidade do país, intrigada pela miséria, o seu marido torna-se cada vez mais ocidentalizado, freqüenta campos de golfe e sonha com mansões, e o consumismo o seduz.
Embora o casal raramente discuta, a cada momento tem menos assuntos em comum. O silêncio começa a vigorar. Num relacionamento há dois tipos de silêncio:
O primeiro é o silêncio da comunhão, que representa o encontro do essencial, onde o dois se torna um.
Um silêncio que dispensa e transcende as palavras.
E existe um segundo silêncio, que é o silêncio das palavras não-ditas. O silêncio onde cada parte habita uma ilha própria, isolada. Um silêncio onde nem as aspirações íntimas, nem os suaves movimentos da alma são compartilhados.
Obama relataria anos mais tarde que sua mãe não estava preparada para a solidão, e que a solidão constante para ela era como falta de ar.
Mal vai o amor, se não diz tudo. E após seis anos de casamento, Ann decide se separar.
Conforme Maya anos mais tarde recordaria sua mãe, apesar dos dois casamentos desfeitos, em nenhum momento queixava-se da trajetória da sua vida ela sempre procurou poupar os filhos das suas desilusões amorosas ou possíveis ressentimentos afectivos.
Sabia que o Amor é maior do que dois amores fracassados...???
Nunca na frente dos filhos se queixou do amor ou do casamento longe de lamentar os relacionamentos desfeitos, agradecia constantemente pelos belos filhos que a Vida lhe concedera.
Pequenos detalhes que muitas vezes passam despercebidos, mas que fazem tamanha diferença...O nosso mal é julgarmos que só as grandes coisas são importantes,
quando é nos detalhes subtis da existência que o verdadeiro caráter se manifesta.
Há quem diga que viver é dançar na corda oscilante do inesperado.
E o que hão de fazer uma jovem mãe e seus dois pequenos rebentos numa terra estrangeira?
Talvez o melhor a fazer seja retornar ao primeiro ninho. E Ann compra três passagens de regresso aos Estados Unidos. O casal Dunham recebe de volta a filha e os dois netos de braços abertos.
Pais amorosos são e sempre serão o porto mais seguro.
Sr. Stanley Dunham, Ann, Maya e o jovem Obama
Mãos que se tocam, o sorriso fácil e acolhedor, próprio daqueles que sabem valorizar da vida o essencial...
Há momentos de felicidade profunda, sem motivo, apenas pela gratidão de respirar. A pureza das crianças pequenas, aqueles que amamos, o sol, a grama, a brisa, o mar...Pai e filha, Mãe e filhos,
Avó e netos, Irmãos...Todas as famílias são iguais, o que muda são as histórias...
Certa vez, escreveu alguém que a verdadeira felicidade reside no seio da família...quando há afinidade de sensibilidade e espírito.
Em verdade, há momentos felizes. E a vida continua.
Barack Obama, agora com dez anos de idade, é matriculado numa escola do Hawaii. Ainda tão novo em idade, e tantas mudanças, tantas andanças...É o único estudante negro na turma de trinta alunos
Enquanto sua mãe, com Maya ao colo, continua empenhada em projectos sociais pelo mundo, o pequeno Obama passa a morar com os avós e estudar nos EUA.
Pelo menos duas vezes por ano, nas férias de verão e nas festividades de fim-de-ano, a família toda reúne-se.
O tempo passa e transforma as crianças em adolescentes e jovens adultos. Uma família multirracial, multiétnica, multinacional.
Obama, sendo nove anos mais velho, procura auxiliar na educação de sua irmã. Chama sua atenção, toda vez que ela passa tempo demais na frente da televisão. Indica bons livros, discos, filmes, como todo bom irmão costuma fazer.
Ann, embora passe boa parte do tempo envolvida em projectos sociais,faz questão de acompanhar de perto a rotina dos filhos, e cobri-los com todo o seu amor e carinho.
Num mundo onde o diferente é olhado com frieza e desconfiança, ela procura dotar os filhos de um olhar que acolhe e que é capaz de ver a beleza da variedade.
“Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita ficavam lado a lado na prateleira...” Diz…Barack Obama
“Todas as religiões foram verdadeiras, para o seu tempo. Quem for capaz de reconhecer o aspecto não perecível da sua verdade e separá-lo do que é circunstancial, terá apreendido isso.”
Joseph Campbell
(um dos escritores favoritos de Ann)
Com sua mãe e irmã constantemente viajando, o porto seguro de Obama são os avós, Sr. Stanley e Sra. Madelyn.
Para se entender um pouco do espírito do casal Dunham, é preciso recordar a serenidade com que receberam o fato de que sua única filha, Ann, resolvera se casar com um estudante africano, e mesmo nos demais estados, onde era tolerado em lei, como no estado do Hawaii,
o casamento entre pessoas brancas e negras não era visto com bons olhos pela sociedade vigente.
No entanto, eles, confiantes na educação que haviam transmitido, apoiavam sua filha nas suas escolhas pelos caminhos da vida.
E com pleno amor criaram e acolheram o seu amado neto no modesto apartamento de dois quartos onde moravam.
É nos detalhes subtis da existência que o verdadeiro carácter se manifesta. O tempo passa, e todos um dia haveremos de partir...
Em fevereiro de 1992, Sr. Stanley Dunham morre aos 74 anos de idade.
Um pai e um esposo amoroso. Um avô e “pai” que amou na sua plena capacidade os seus amados netos.
A vida não se mede pela quantidade de anos que se vive...A vida mede-se pela quantidade de alegria que se distribui, escreveu certa vez um poeta.
E a vida continua, por entre a tristeza das partidas e a alegria das chegadas. Pessoas amadas que partem, Pessoas amadas que chegam
É na firma de advocacia em Chicago onde trabalha que Barack Obama conhece a jovem advogada Michelle Robinson e não tardará muito para que eles decidam se casar.
O casamento é uma ponte que conduz ao céu, afirmou certa vez um antigo sábio.
Duas famílias que se unem, Histórias, memórias, sonhos, lembranças que se entrelaçam...Em verdade, há momentos felizes.
Porém, a vida é uma dança na corda oscilante do inesperado.
Pessoas amadas que chegam, pessoas amadas que partem.
Em 1995, Ann interrompe suas actividades em projectos sócio-econômicos na Ásia para cuidar da saúde nos Estados Unidos.
Há cerca de um ano ela começou a sentir dores no estômago, cuja causa os médicos locais não conseguem descobrir.Os novos exames diagnosticam câncer.
E ela começa o penoso tratamento no Hawaii. No entanto, o diagnóstico tardio reduz as chances de vencer a enfermidade, e ela perde a luta contra o câncer, aos 52 anos de idade.
A sua prematura partida deixa atônita a família, tendo em vista o amor e a paixão que ela manifestava pela vida.
Compartilhava que queria adoptar uma criança refugiada, sonho este que não teve tempo de realizar.
Barack Obama afirma que seu maior erro na vida foi não ter estado presente ao lado de sua mãe na sua hora derradeira. Tanto a família quanto os médicos nutriam enormes esperanças de que ela conseguisse vencer a batalha.
Sua filha recorda que ela tinha um coração muito delicado e que chorava com facilidade, bastava ver algum animal ser maltratado, ou alguma criança vítima de injustiça ou crueldade, uma notícia ou um filme triste. Por outro lado, era destemida e determinada nas suas acções.
Morou em mais de treze países, e em todos eles se sentia em casa.
Considerava-se uma cidadã do mundo. Durante toda a sua vida acordou muito antes do nascer do dia e se dedicou incansavelmente às acções sociais, em especial àquelas que beneficiassem os excluídos e marginalizados da sociedade.
Atendendo ao seu pedido, a família e alguns poucos amigos íntimos lançam as suas cinzas nas costas do Oceano Pacífico, numa das praias do Hawaii
Viveu o suficiente para ver o casamento do seu filho. Mas quis o destino levá-la antes que sua filha se casasse
ou que nascessem os seus netos; ela que tanto amava as crianças...
Em sua breve vida terrena abraçou o papel de mãe, da grande mãe.
Aquela que abriga e protege os filhos não apenas os gerados no seu ventre, mas os filhos do mundo, em especial, os carentes, esquecidos, excluídos, necessitados.
E foi esta inspiração íntima, certamente, a herança mais nobre que deixou aos filhos.Que o olhar compassivo da mãe possa continuar a brilhar nos olhos do filho, durante os importantes desafios que ombreará nos próximos anos...
As responsabilidades e as expectativas que Barack Obama ombreia não encontram paralelo na história recente.
Certamente o acompanharão nesta missão que lhe foi destinada as orações e os pensamentos de todos aqueles que sonham com um mundo melhor.
E certamente o acompanhará também a eterna presença de sua amada mãe, a fonte mais significativa de sua inspiração íntima.
E o coração da jovem mãe por certo se alegra com as flores e os frutos de amor que os seus dedicados esforços têm produzido...
Os amigos e familiares próximos recordam a afinidade que unia mãe e filho, relatando que eram muito próximos, “extraordinariamente próximos”.
Para compartilhar aquilo que sentiam pareciam em muitas ocasiões dispensar o uso das palavras.
Há sentimentos que transcendem este limitado recurso que utilizamos,
- as palavras...Os sonhos da mãe, e os sonhos do filho.
O sonho de um mundo melhor, mais justo, fraterno, solidário. São os sonhos que seguram o mundo em sua órbita.
Que seria de nós se não sonhássemos?...
Sem comentários:
Enviar um comentário